domingo, 22 de maio de 2011

Brasil celebra beatificação de irmã Dulce neste domingo em Salvador

Heliana Frazão
Especial para o UOL Notícias
Em Salvador
  • Irmã Dulce é fotografada entre crianças; após beatificação, freira ficará mais perto da santificação Irmã Dulce é fotografada entre crianças; após beatificação, freira ficará mais perto da santificação
Ao meio dia deste domingo (22), o Parque de Exposições da Bahia, em Salvador, abre seus portões para sediar um dos maiores atos de fé já assistidos pelos católicos baianos: a cerimônia de beatificação de irmã Dulce, que se notabilizou como o Anjo Bom da Bahia. O ato solene colocará a freira, falecida há 19 anos, a um passo da santificação.
Organizadores do evento esperam cerca de 70 mil pessoas de toda a Bahia, do Brasil e até do exterior. Afinal, são 11 anos de espera para chamar irmã Dulce de "Bem-aventurada Dulce dos Pobres". A beata terá o dia 13 de agosto como data oficial de celebração de sua festa litúrgica.

A vida da irmã Dulce em fotos

Foto 53 de 65 - Foto sem data mostra irmã Dulca com o papa João Paulo 2º em sua primeira visita ao Brasil. A cerimônia de oficialização da beatificação da religiosa pelo Vaticano acontece neste domingo (22) com a participação de 70 mil fiéis Mais Divulgação/Ascom/Osid
Entre os fiéis estará a dona de casa Terezinha Santos Varjão, 65, que se define como católica praticante. “Admiro muito a obra de irmã Dulce. Ela foi santa em vida. Não falto a essa cerimônia de jeito nenhum. Quero chegar cedo para ficar bem na frente e assistir a tudo”, diz ela, uma das primeiras a pegar o ingresso na paróquia do bairro da Pituba.
A agenda festiva começará às 14h, com a exibição do espetáculo "Nasce uma Flor", que contará passagens memoráveis da vida da religiosa. O espetáculo reunirá cerca de 500 alunos do Centro Educacional Santo Antônio (CESA) - que integra as Obras Sociais Irmã Dulce -, com idades entre 6 e 15 anos, em cenas marcantes, como a do galinheiro onde ela acolhia doentes e que deu origem ao Hospital Santo Antônio.
Às 17h, acontecerá a celebração canônica com uma missa seguida do roteiro litúrgico do Rito de Beatificação do Vaticano. A cerimônia contará com cerca de 500 religiosos – entre padres, arcebispos, bispos, diáconos e seminaristas. Logo depois, o arcebispo de Salvador, dom Murilo Krieger, solicitará ao papa que inscreva, na lista dos santos e beatos da Igreja Católica, o nome da freira baiana.
O cardeal dom Geraldo Majella pedirá, em nome do papa, que seja lida a biografia da beatificada, concluindo com o decreto apostólico de Bento 16 incluiu irmã Dulce na lista dos santos e beatos da Igreja Católica, propondo-a como exemplo cristão para todos os fiéis.

Conheça a história do "Anjo Bom da Bahia"


Os presentes assistirão ainda ao descerramento de uma imagem da nova beata, enquanto uma procissão solene apresentará uma relíquia da religiosa. À frente estará Cláudia Cristiane Santos Araújo, a funcionária pública sergipana cuja cura de uma hemorragia foi reconhecida pelo Vaticano como milagre atribuído a irmã Dulce. Em sinal de gratidão, ela depositará flores aos pés da imagem. Com a proclamação da freira como bem-aventurada, será encerrada a cerimônia.


Beatificação

O processo de canonização de irmã Dulce começou em janeiro de 2000. A validação jurídica do milagre  -supostamente ocorrido em 2001- foi emitida pela Santa Sé em junho de 2003. Em abril de 2009, o papa Bento 16 reconheceu as virtudes heróicas da Serva de Deus Dulce Lopes Pontes, autorizando oficialmente que lhe fosse concedido o título de Venerável.
Em outubro de 2010, a Congregação para a Causa dos Santos acatou por unanimidade o milagre atribuído à freira baiana, cumprindo, assim, a última etapa do processo de beatificação, que antecede a canonização.
No dia 10 de dezembro de 2010 foi promulgado o decreto do milagre da beatificação, iniciando, no dia seguinte, o processo de canonização da bem-aventurada. Para alcançar a santificação, porém, será necessár ia a comprovação de uma nova graça ocorrida a partir de 11 de dezembro por intercessão da beata.
O milagre
Tudo começou com uma pergunta feita pelo padre José Almí de Menezes, em 10 de janeiro de 2001, à funcionária pública Cláudia Cristiane Santos de Araújo, desenganada pelos médicos, durante uma forte e incontrolável hemorragia, após dar à luz o segundo filho.
“Você precisa de um milagre para sobreviver. Você acredita que irmã Dulce possa interceder diante de Deus?” Mesmo desconhecendo mais detalhes sobre irmã Dulce, Cláudia respondeu positivamente. “Eu também. Então, vamos rezar”, disse o religioso, ao depositar uma imagem da freira sobre o frasco do soro.
Como resultado desse curto diálogo, afirmam os peritos, o sangue estancou, surpreendendo a equipe médica, que já iniciara os procedimentos para atestar o óbito da paciente. O obstetra Antônio Cardoso Moura havia comunicado à família que não tinha mais nada a fazer. Poucos dias depois, Cláudia deixou o hospital andando.
Peritos médicos, religiosos e especialistas em processo canônico garantem que o ocorrido é inexplicável do ponto de vista da medicina.
Histórico
Irmã Dulce nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador, sendo registrada Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Foi a segunda filha do dentista Augusto Lopes Pontes e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes.
Aos 13 anos, a irrequieta menina, que até então gostava de soltar pipa e jogar futebol, manifestou interesse pela vida religiosa e pelos pobres, a ponto de sua casa ficar conhecida como "a portaria de São Francisco". Seus pais, porém, resistiam em deixá-la trilhar o caminho da fé, o que somente ocorreu após Maria Rita completar 18 anos.
Em 1933, ela ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no Convento de Nossa Senhora do Carmo (Sergipe). No mesmo ano recebeu o hábito e adota, em homenagem à mãe, o nome de Irmã Dulce.
Logo depois, voltou à Bahia e iniciou seu trabalho assistencial em comunidades carentes. Treze anos depois, cansada de perambular pelas ruas, com seus desassistidos, sofrendo humilhações, irmã Dulce ocupou, com autorização da sua superiora, o galinheiro do Convento Santo Antonio, levando para lá 70 doentes, local onde fundou o Hospital Santo Antonio, que atualmente responde por mais de cinco milhões de atendimentos por ano.
O local foi definido por ela como “a última porta e a única que não poderia se fechar” aos pobres. Com seu estilo incansável, a freira de 1,47m de altura, que respirava com apenas 20% da capacidade pulmonar, ampliou ano a ano o seu trabalho assistencial, contando apenas com doações.
Irmã Dulce morreu em 13 de março de 1992, aos 77 anos, no Convento Santo Antônio, ao lado dos seus doentes. Seus restos mortais estão sepultados na Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, futuro Santuário de Irmã Dulce, que está sendo construído junto às obras.

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